Muitos de nós possuem uma relação de amor e ódio com adoçantes artificiais. Estas moléculas aparentemente mágicas entregam um sabor doce sem a caloria habitual. Consumimos enormes quantidades desses produtos químicos, principalmente na forma de aspartame, sucralose e sacarina, que são usados para animar o sabor de tudo, desde a Diet Coke até a pasta de dente. No entanto, há preocupações.

Muitos suspeitam que toda essa doçura possa custar caro a nossa saúde, embora a ciência continuar pontuando vagamente quanto aos problemas.

No ano passado, no entanto, uma equipe de cientistas israelenses montou um caso mais forte e concluiu que, a partir de estudos em camundongos, a ingestão de adoçantes artificiais pode levar – além de outras – à obesidade e doenças relacionadas, tais como diabetes. Este estudo não foi o primeiro a notar esta associação nos animais, mas foi o primeiro a encontrar evidências de uma causa plausível: os adoçantes parecem alterar a população de bactérias intestinais que regem o metabolismo, a conversão dos alimentos em energia ou combustível armazenado. E este resultado sugere que essa associação pode existir também em seres humanos.

Nos seres humanos, bem como nos camundongos, a capacidade de digerir e extrair energia a partir da alimentação é determinada não só pelos genes, mas também pela atividade dos trilhões de micróbios que habitam o aparelho digestivo. Coletivamente, essas bactérias são conhecidas como microbioma intestinal. O estudo israelense sugere que os adoçantes artificiais aumentam as populações de bactérias do intestino que são mais eficientes em puxar energia do alimento, transformando essa energia em gordura. Em outras palavras, os adoçantes artificiais podem favorecer o crescimento de bactérias que disponibilizam mais calorias, calorias que podem, então, encontrar a sua morada nos nossos quadris, coxas e barrigas, explica Peter Turnbaugh da Universidade da Califórnia, em São Francisco, um especialista da interação de bactérias e metabolismo.

GLUTÕES BACTERIANOS

No experimento israelense, camundongos com 10 semanas de idade foram alimentados com uma dose diária de aspartame, sucralose ou sacarina. Outro grupo de camundongos foi dado água misturada com um dos dois açúcares naturais, glicose ou sacarose. Após 11 semanas, os camundongos que receberam açúcar estavam bem, ao passo que os alimentados com adoçantes artificiais apresentaram níveis de açúcar (glicose) no sangue anormalmente altos, uma indicação de que seus tecidos estavam tendo dificuldade em absorvê-lo. Se nada for feito, essa “intolerância à glicose” pode levar a uma série de problemas de saúde, incluindo diabetes e um aumento do risco de doenças do fígado e coração. Mas é reversível: após tratamento com antibióticos de amplo espectro para matar todas as bactérias do intestino, a população microbiana finalmente retornou à sua composição original e equilíbrio, assim como o controle de glicose no sangue.

“Essas bactérias não são agnósticas aos adoçantes artificiais”, diz o biólogo computacional Eran Segal, do Instituto de Ciência Weizmann, em Rehovot, Israel, um dos dois principais cientistas do estudo. Os pesquisadores também descobriram que as populações microbianas que prosperaram com os adoçantes artificiais foram as mesmas apresentadas por outros pesquisadores por serem particularmente abundantes nas vísceras de camundongos geneticamente obesos.

Jeffrey Gordon, um médico e biólogo da Universidade de Washington em St. Louis, fez uma pesquisa que mostra que essa relação entre bactérias e obesidade é mais do que uma coincidência, desde que mais de 90 por cento das espécies bacterianas no intestino vêm de apenas dois subgrupos – Bacteroides e Firmicutes. Gordon e sua equipe descobriram há vários anos que camundongos geneticamente obesos (animais sem a capacidade de fabricar a leptina, um hormônio que limita o apetite) tinham 50% menos bactérias Bacteroides e 50% mais bactérias Firmicutes do que os camundongos normais. Quando transferiram uma amostra da população bacteriana Firmicutes dos camundongos obesos aos com peso normal, estes engordaram. A razão para isto, Gordon explica, desdobra-se em duas: as bactérias Firmicutes transplantadas dos camundongos gordos produziram mais das enzimas que ajudam na extração de mais energia do alimento, e as bactérias também manipularam os genes dos camundongos normais em formas que desencadearam o armazenamento de gordura, em vez de sua quebra para energia.

Gordon acredita que algo semelhante ocorra em humanos obesos e descobriu que a proporção de bactérias Bacteroides para Firmicutes aumenta à medida que as pessoas gordas perdem peso, quer através de um baixo teor de gordura ou dieta com pouco carboidrato. O microbiologista da Universidade de Stanford, David Relman, diz que esta descoberta sugere que as bactérias no intestino humano podem não só influenciar a nossa capacidade de extrair calorias e armazenar energia da nossa dieta, mas também possui um impacto sobre o equilíbrio dos hormônios, como a leptina, que molda o nosso comportamento alimentar, levando alguns de nós a comer mais do que outros, em qualquer situação.

A questão candente, é claro, é se os adoçantes artificiais podem realmente tornar os humanos doentes e gordos. Segal acha que provavelmente sim, pelo menos em alguns casos. Ele e sua equipe analisaram um banco de dados de 381 homens e mulheres e descobriram que aqueles que usavam adoçantes artificiais possuíam probabilidade maior de ter excesso de peso e mais propensão a apresentar menor tolerância à glicose. A obesidade é, de fato, bem conhecida como um fator de risco para o desenvolvimento da intolerância à glicose, bem como para doenças relacionadas com a glicose mais graves, tais como o diabetes.

Esses padrões não provam que os adoçantes causaram os problemas. Na verdade, é bem possível que as pessoas com excesso de peso são simplesmente mais propensas que outras a consumir adoçantes artificiais. Mas a equipe de Segal foi mais longe, testando a associação diretamente em um pequeno grupo de voluntários humanos magros e saudáveis que normalmente evitavam adoçantes artificiais. Depois de consumir a dose máxima de sacarina aconselhada pelo US Food and Drug Administration, durante um período de cinco dias, quatro dos sete indivíduos apresentaram uma resposta reduzida à glicose, além de uma mudança brusca em seus micróbios do intestino. Os três voluntários cuja tolerância à glicose não diminuiu, não mostraram nenhuma mudança em seus micróbios do intestino.

Embora nem todos pareçam suscetíveis a este efeito, as descobertas justificam mais pesquisas, afirmam os cientistas. O grupo israelense concluiu que os adoçantes artificiais “podem ter contribuído diretamente para aumentar exatamente a epidemia que eles próprios tinham a intenção de diminuir”, isto é, os adoçantes podem estar fazendo, pelo menos, alguns de nós mais pesados e mais doentes.

A cadeia de causa e efeito a partir de edulcorantes/micróbios/obesidade poderia explicar alguns quebra-cabeças sobre pessoas obesas, diz o gastroenterologista da Universidade de Nova Iorque, Ilseung Cho, que pesquisa o papel das bactérias intestinais em doenças humanas. Ele ressalta que, em estudos, a maioria das pessoas que muda de açúcar para adoçantes de baixas calorias em um esforço para perder peso não consegue fazê-lo na velocidade esperada. “Há anos suspeitamos que as mudanças nas bactérias do intestino possam ter algum papel na obesidade”, diz ele, embora tenha sido difícil identificar esse efeito. Mas Cho acrescenta que certamente “qualquer que seja a sua dieta normal, ela pode ter um enorme impacto sobre a população bacteriana do seu intestino, um impacto difícil de superestimar. Sabemos que não vemos o benefício da perda de peso que se esperaria desses adoçantes não nutritivos, e uma mudança no equilíbrio das bactérias intestinais pode muito bem ser a razão, especialmente quando resulta em uma mudança no equilíbrio hormonal. Um hormônio é como um multiplicador de força e se uma mudança em nossos micróbios do intestino tem um impacto sobre os hormônios que controlam o comer, bem, isso explica muita coisa”.

MICRÓBIOS VS. GENES

Naturalmente, existem muitas perguntas deixadas sem respostas. Cathryn Nagler, uma patologista da Universidade de Chicago e especialista em bactérias do intestino e alergias alimentares, diz que as enormes variações genéticas em seres humanos fazem extrapolações a partir de camundongos suspeitas. “Ainda assim, achei os dados muito convincentes”, afirma ela sobre o estudo israelense. Relman concorda que estudos com roedores nem sempre são um reflexo do que acontece nos seres humanos. “Estudos em animais podem apontar para um fenômeno geral, mas os animais nestes estudos tendem a ser geneticamente idênticos, enquanto que em seres humanos, histórias de vida e diferenças genéticas podem desempenhar um papel muito poderoso”, observa ele. A constelação de micróbios num corpo humano é um reflexo da história particular daquele corpo – tanto genética quanto ambiental.

“O microbioma é um componente interligado em um complexo quebra-cabeça”, Relman continua. “E, por vezes, a genética é tão forte que sobrepõe à microbiota.” Variações genéticas podem explicar por que apenas quatro dos sete seres humanos alimentados com sacarina tiveram uma mudança em suas bactérias do intestino, por exemplo, embora a genética seja apenas um de uma série de possíveis fatores. E se alguém é geneticamente predisposto à obesidade e consome uma dieta que a promove, os micróbios podem mudar para tirar proveito dessa dieta, ampliando assim o efeito.

Os pesquisadores israelenses concordam que é muito cedo para concluir que os adoçantes artificiais causam distúrbios metabólicos, mas, juntamente com outros cientistas, estão convencidos de que pelo menos um – a sacarina – tem efeito significativo sobre o equilíbrio dos micróbios no intestino humano. “A evidência é muito convincente”, diz Turnbaugh. “Algo está definitivamente acontecendo.” Segal, por exemplo, não se arrisca: diz que trocou o adoçante artificial por outro de fonte natural em seu café.

Os artigos aqui postados não necessariamente expressam a visão da Empresa.

Artigo traduzido por Essential Nutrition
Referências:
http://www.scientificamerican.com/article/artificial-sweeteners-may-change-our-gut-bacteria-in-dangerous-ways/?WT.mc_id=SA_Facebook

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