As bactérias do intestino desempenham um papel no humor e na emoção. Será que seriam os probióticos a chave para um melhor antidepressivo?

A língua inglesa é rica em expressões idiomáticas que ligam nossas barrigas com nossos comportamentos. E cada vez mais, há evidência científica de que as bactérias em nossos intestinos além de influenciarem o comportamento, também influenciam a emoção.

Nosso trato gastrointestinal está repleto de dezenas de milhares de espécies bacterianas. Estes micróbios já são conhecidos por ajudar a regular o processo digestivo e desempenhar um papel no peso corporal e desejos alimentares. Alguns cientistas estão descobrindo, no entanto, que esses mesmos micróbios também podem alterar a química do cérebro. A explicação de como isso acontece ainda está sendo estudada, mas um caminho pode ser o nervo vago, que vai do cérebro até o estômago. As bactérias estimulam o nervo vago, e que, por sua vez, estimulam a produção de vários neurotransmissores – as substâncias químicas do cérebro que determinam, em parte, o que pensamos e como nos sentimos.

Camundongos criados em ambientes estéreis, livres de bactérias mostram traços sociais parecidos com os de autistas. “Quando olhamos para o cérebro desses animais, vemos mudanças marcantes no sistema da serotonina e os níveis de proteínas envolvidas na plasticidade”, afirmou John Cryan, professor de neurociência da University College Cork da Irlanda durante uma recente palestra na TEDMED (conferência anual com foco em medicina e saúde).

O Futuro dos Probióticos

Um estudo mostrou que os sintomas autistas foram revertidos depois de ministrar probióticos a esses camundongos. Também, alimentando roedores ansiosos com probióticos diminuiu seus níveis de ansiedade, assim como a administração de um transplante fecal em um camundongo particularmente ansioso.

E não são apenas camundongos: Em 2011, um pequeno grupo de voluntários humanos sofreram reduções de depressão e ansiedade depois de tomar uma combinação de Lactobacillus helveticus e Bifidobacterium longum por 30 dias. Dois anos depois, cientistas da UCLA (Universidade da Califórnia) descobriram que as mulheres saudáveis que consumiram iogurte duas vezes por dia apresentaram alterações nas partes do cérebro que processam a emoção.

Agora, Cryan e outros têm proposto uma teoria especulativa que nossas bactérias intestinais desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento de personalidades sociais iniciais dos seres humanos. Enquanto a sociedade humana evoluía, as pessoas precisavam entender melhor uns aos outros, a fim de cooperar, compartilhar recursos, fazer ferramentas, caçar, procriar e criar os filhos. Baseado na história dos camundongos com comportamentos autistas, Cryan sugere que podem ter sido nossas bactérias intestinais que nos estimularam nos tempos de outrora para aprender essa convivência. Olhando do ponto de vista das bactérias: Quanto melhor fosse a socialização entre os hospedeiros humanos, mais provável sua prosperidade e multiplicação. E quanto mais seres humanos existissem, mais espaço haveria para as bactérias do intestino.

“É melhor para o ser humano estar em grupos sociais, e também melhor para as bactérias”, disse Cryan, que apresentou essa teoria em um artigo que está em Frontiers in Cellular and Infection Microbiology. “Tudo o que aumenta o potencial de um gene para ser repassado e espalhado é o que conduz a evolução. Estar em um grupo social permite isto tanto para as bactérias quanto para os seres humanos.”

Toda essa pesquisa ainda está nos estágios iniciais. Não temos ideia de quais probióticos poderão tratar os sintomas psicológicos específicos. Cryan disse ser importante desenvolver mais o rigor científico por trás dessa ideia, antes de ir trocando nosso Celexa pelo iogurte Chobani.

“Os probióticos são medicamentos”, disse Cryan. “Se você tem alergia e toma um anti-histamínico, vai haver uma melhora, mas se você tomar uma estatina, não vai.” Portanto, o próximo passo, segundo ele, é “projetar probióticos de precisão para sabemos como eles funcionam por conta própria e coletivamente”.

Dada a forma como as pessoas andam insatisfeitas com os antidepressivos tradicionais e seus efeitos secundários, isso pode levar a um futuro em que nos sentiremos mais felizes apenas manipulando nossa microbiota. Isso certamente acrescentaria mérito à ideia de que o que comemos afeta todo o resto. Ou como Cryan coloca, “Seu estado de espírito pode ser dependente de seu estado intestinal”.

Artigo traduzido por Essential Nutrition
Autora:
Olga Khazan
Referências:
Artigo na íntegra: http://www.theatlantic.com/health/archive/2014/09/when-yogurt-affects-the-brain/380542/

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