Em 2008 no filme de animação WALL-E, a Pixar mostrava um mundo levemente otimista, mas negativo para os obesos ou pessoas imóveis cujas necessidades são atendidas por uma horda de robôs e computadores – um mundo que não parece ser ficção científica desde que testemunhamos o precipitado declínio da atividade física ao longo da última geração.

Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças, nos EUA, estimam que cerca de 80 por cento dos americanos não recebem a quantidade recomendada de exercício de que necessitam a cada semana para uma boa saúde. Então, será que a Pixar previu o futuro da humanidade ou será que existe uma maneira para mudarmos o caminho?

O comportamento sedentário é um problema intratável. Aparentemente forças benignas tornam mais e mais fácil para muitos de nós realizarmos nosso trabalho, escola e vida social a partir do conforto de uma cadeira e um dispositivo conectado à internet. Infelizmente, o sedentarismo é uma força motriz por trás dos crescentes custos de saúde, e ele representa uma ameaça alarmante para a saúde e o bem-estar dos nossos filhos. Felizmente, há esperança provinda das lições do movimento de controle do tabaco e os esforços para mudar o comportamento de fumar.

O hábito de fumar de outrora é o hábito de ficar sentado de hoje

Dr. James Levine, da Clínica Mayo e autor de Get Up! Why Your Chair Is Killing You and What You Can Do About It(Livro ainda não lançado no Brasil: Se Levante! Por que sua cadeira o está matando e o que você pode fazer sobre isso), declara que hoje o hábito de se sentar é como era o de fumar. Ele explora isso em termos de impacto negativo na saúde, mas há outra interpretação da analogia que vale a pena considerar – um roteiro para enfrentar um problema de saúde que requer mudança de comportamento em larga escala.

Mudança de comportamento em massa é difícil, mas isso já foi feito antes. Há cinquenta anos, fumar era um hábito comum, socialmente aceito que assolava a saúde de milhões de pessoas. Isso mudou drasticamente, graças a uma campanha de décadas para reverter a epidemia do tabagismo. O relatório do Surgeon General de 1964 que ligou definitivamente o tabagismo ao câncer de pulmão tornou-se um marco para um plano de ação que, desde então, envolveu o comprometimento de setores da saúde, meios de comunicação, filantropia, governo e setores de base em uma batalha épica para controlar o uso do tabaco. Esse esforço tem reduzido os índices de fumantes adultos nos EUA de 42,4 por cento para 18,1 por cento. Esta abordagem multissetorial bem sucedida fornece um modelo para a montagem de um esforço semelhante para reverter a tendência do comportamento sedentário.

Confrontando o Paradoxo da Prevenção

Nosso sistema de saúde é caracterizado por um paradoxo na área da prevenção, onde os incentivos financeiros favorecem o tratamento de alto custo da doença sobre a prevenção que é de menor custo. A falta de enfrentamento desse paradoxo ameaça a sustentabilidade do nosso setor de cuidados de saúde, que está gastando 75 centavos de cada dólar em condições crônicas ligadas ao sedentarismo, como obesidade, diabetes e doenças cardíacas. O movimento de controle do tabaco superou o obstáculo de incentivos financeiros desalinhados com grande efeito, mudando o comportamento do consumidor e mobilizando os interesses das empresas de saúde para a causa. O que podemos aprender?

Desenvolver ferramentas para ajudar os consumidores a mudar o comportamento é fundamental. Fumar, como o sedentarismo, é um hábito extremamente complicado para mudar, sem uma única regra de ouro que funcione para todos. Com o tempo, programas para cessar o tabagismo, adesivos de nicotina, chicletes especiais e outros produtos foram desenvolvidos para ajudar os fumantes. Hoje, as seguradoras reembolsam o custo de tais ferramentas, como forma de prevenir problemas de saúde mais caros no caminho. Precisamos de ferramentas similares, disponibilizadas em ambientes de cuidados de saúde, para ajudar a mudar padrões de comportamento sedentário, motivando maiores níveis de atividade física.

Análise rigorosa do custo de intervenções de atividade física como uma ferramenta de prevenção versus tratamento de doenças em que o comportamento sedentário é um fator também é essencial. O relatório do Surgeon General de 1964 sobre o tabaco ajudou a catalisar o movimento antitabagismo. Em 1996 foi publicado o primeiro relatório doSurgeon General sobre atividade física e saúde, semelhante ao de 1964, iluminando o grande corpo de evidências ligando o comportamento sedentário com uma ampla gama de resultados negativos de saúde, incluindo mortes prematuras, doenças do coração, diabetes, obesidade, hipertensão e câncer. O relatório de 1996 também observou que “a investigação sobre a compreensão e promoção da atividade física está em um estágio inicial”.

Como um executivo de saúde me disse recentemente: “Se sentar é o novo fumar, voltamos à década de 1970 com o comportamento sedentário”. O que começou na década de 70 para os fumantes é o que agora se desdobra para o comportamento sedentário na sequência do relatório do Surgeon General e um fluxo constante de novas evidências sobre os benefícios de saúde preventivos da atividade física. Um maior foco na prevenção, os avanços na tecnologia e os conhecimentos da ciência da mudança de comportamento levaram a uma onda de inovação em produtos e serviços projetados para motivar a atividade física – um passo significativo na direção certa.

Progresso e perspectivas futuras

Um exemplo promissor de progresso é o esforço no Kaiser Permanente para trazer a atividade física para a prática clínica através do seu Exercise as a Vital Sign (EVS). Ao elevar a atividade física como importante quanto à temperatura corporal, pressão arterial e frequência cardíaca, Kaiser está dando um passo importante para diagnosticar o comportamento sedentário e abrir um diálogo com os usuários de cuidados de saúde sobre as opções para a mudança de comportamento e tratamento. Este é apenas um primeiro passo: “Somente tomar a temperatura não faz a febre diminuir, você tem que intervir de outra maneira”, como Dr. Robert Sallis, o médico que trouxe EVS a Kaiser, observa na comparação entre a avaliação do exercício e tomadas de outras medidas vitais.

Decidir o que fazer para pacientes sedentários é a fronteira deste trabalho hoje. A boa notícia é que as intervenções de atividade física – análogos aos programas de cessação do tabagismo – são onde as grandes inovações estão ocorrendo. O programa de atividade física para crianças de Zamzee é uma das muitas abordagens que está sendo experimentada, como visionária, em instituições de saúde. Mas essas ferramentas permanecem relativamente inacessíveis aos consumidores através de um sistema de saúde mais voltado para o tratamento da prevenção. Estes programas devem ser amplamente integrados na prática clínica e reembolsados através do MedicareMedicaid(programas nacionais de saúde americanos) e planos privados de saúde, assim como ferramentas de antitabagismo foram integrados ao longo dos últimos 50 anos.

 

Seguindo o caminho de sucesso forjado pelo movimento de controle do tabaco e suas campanhas antitabagismo, estou confiante de que o movimento “anti-sitting” (anti-sedentarismo) pode ser mobilizado para um sucesso similar em reverter a epidemia do sedentarismo. Requererá compromisso sustentado dos setores público e privado para criar as ferramentas e montar a evidência de que irá conduzir impacto. Ao abraçar a noção de que ficar sentado é o novo fumar, temos medidas práticas que podemos tomar para salvar vidas e mudar o comportamento da mesma forma que o movimento de controle do tabaco já salvou vidas de milhões de pessoas durante o último meio século.

Artigo traduzido por Essential Nutrition
Referências:
http://www.huffingtonpost.com/lance-henderson/if-sitting-is-the-new-smo_1_b_5946910.html

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