Meu sobrinho, cunhada e vários outros que conheço estão em dietas sem glúten, nutrindo um mercado para esses alimentos, que deverá chegar a US$ 15 bilhões em vendas anuais até 2016.

Prateleiras dos supermercados já estão repletas com alimentos rotulados sem glúten (incluindo alguns, como amendoim e manteiga de amêndoa, que naturalmente não possuem glúten). Chefes de cozinha também aderiram à causa: Muitos restaurantes e até pizzarias já oferecem pratos sem glúten.

Aqueles que dizem ter reação ao glúten, uma proteína do trigo e outros grãos, relatam sintomas como dor abdominal, inchaço, gases, diarreia, dor de cabeça, fadiga, dor nas articulações, mente nebulosa, dormência nas pernas, braços ou dedos e problemas de equilibro após comer um alimento rico em glúten.

Eu suspeitava a princípio, que a mania glúten-free era uma tentativa de alguns de encontrar uma explicação física para problemas emocionais, semelhante à “epidemia” de hipoglicemia de décadas passadas. Mas um número crescente de pesquisas indica que muitos podem estar sofrendo de uma condição real, chamada de sensibilidade ao glúten não celíaca, ou NCGS. Isso não é doença celíaca, uma condição autoimune muito menos comum que pode destruir o intestino delgado, e, na verdade, ninguém conclusivamente identificou uma explicação física para a sensibilidade ao glúten e sua variedade de sintomas.

Estudos recentes têm sugerido fortemente que muitas, e possivelmente a maioria, das pessoas que reagem mal ao glúten podem ter um problema mais desafiador: a sensibilidade a uma longa lista de alimentos que contenham certos carboidratos.

Em 2011, o Dr. Peter Gibson, um gastroenterologista da Universidade de Monash, em Victoria, na Austrália, e seus colegas estudaram 34 pessoas com síndrome do intestino irritável, que não possuíam doença celíaca, mas reagiam mal ao trigo, um grão rico em glúten. Os pesquisadores concluíram que a sensibilidade ao glúten não celíaca “pode existir”.

Muitas delas ainda tinham sintomas sob uma dieta livre de glúten, o que levou a um segundo estudo com 37 pacientes com síndrome do intestino irritável e sensibilidade ao glúten não celíaca que foram aleatoriamente designados durante duas semanas com uma dieta reduzida de certos carboidratos, coletivamente chamada deFodmaps.

Todos os pacientes melhoraram, mas pioraram significativamente quando alimentados com glúten ou proteína de soro de leite (whey) foram reinseridos. Apenas oito por cento dos participantes reagiram especificamente ao glúten, o que levou os pesquisadores a concluir que Fodmaps, e não o glúten, seria responsável pela maior parte do sofrimento.

 

Fodmaps é um acrônimo para carboidratos fermentáveis não absorvíveis, em especial oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis, açúcares que atraem água para o trato intestinal. Eles podem ser mal digeridos ou absorvidos e tornarem-se alimento para bactérias do cólon que produzem gases e podem causar desconforto abdominal. Estes são:

 

■ Frutose: Um açúcar de destaque nas maçãs, peras, melancia, mangas, uvas, mirtilos, tomates e concentrado de tomate, todas as frutas secas; legumes como ervilhas, pimentões e picles; mel; agave; compotas, molhos e bebidas feitas com xarope de milho.

■ Lactose: O açúcar do leite de vacas, cabras e ovelhas, presente em sorvetes, queijos cremosos, creme de leite e creme.

■ Frutano: fibra solúvel encontrada na banana, alho, cebola, alho-porró, alcachofras, aspargos, beterraba, trigo e centeio.

■ Galactano: açúcar complexo encontrado em ervilhas secas e feijões, soja, leite de soja, brócolis, repolho e couve de Bruxelas.

■ Polióis: Os álcoois de açúcar (adoçantes) isomalte, manitol, sorbitol e xilitol, presentes em frutas de caroço, como abacate, cerejas, pêssegos, ameixas e damascos.

Pessoas com síndrome do intestino irritável, muitas vezes sentem seus sintomas diminuírem ou desaparecerem quando evitam alimentos tipo Fodmaps; no entanto, uma melhora significativa pode levar de seis a oito semanas. Especialistas aconselham os pacientes a eliminar todos os alimentos ricos em Fodmaps no início. Uma vez que os sintomas desaparecerem, os alimentos são reinseridos à dieta, um a um, para identificar aqueles que provocam a reação.

Então, o que acontece com os pacientes que pensam ser sensíveis apenas ao glúten?

Dr. Joseph A. Murray, gastroenterologista da Clínica Mayo e especialista em doença celíaca, insiste que eles primeiramente sejam testados para a doença celíaca, uma condição que se tornou dramaticamente mais prevalente nas últimas décadas. Os sinais de sensibilidade ao glúten imitam frequentemente os da doença celíaca, como a síndrome do intestino irritável.

Os testes para a doença celíaca são menos precisos se o paciente já estiver com dieta sem glúten. “Teste primeiro, teste corretamente”, disse o Dr. Murray em entrevista. “Vemos pessoas com sintomas que começam uma dieta livre de glúten antes de testarem, e então não podemos fazer um diagnóstico correto.”

Com a sensibilidade ao glúten não celíaca, não há danos ao intestino delgado, o que significa que muitas pessoas podem consumir pequenas quantidades de glúten sem incidentes. O próximo livro editado pelo Dr. Murray, “Mayo Clinic Going Gluten Free“, relaciona os requisitos essenciais para o diagnóstico de sensibilidade ao glúten não celíaca:

 

■ Exames de sangue negativos para a doença celíaca e nenhum sinal de dano em uma biópsia intestinal.

■ Melhora dos sintomas quando o glúten é removido da dieta.

■ A recorrência dos sintomas quando o glúten é reintroduzido.

■ Nenhuma outra explicação para os sintomas.

Ainda não se sabe se as condições resultam de uma reação imunológica semelhante à observada na doença celíaca ou se o glúten exerce um efeito químico negativo ou outro sobre a digestão.

A sensibilidade ao glúten não é o mesmo que uma alergia ao trigo, um problema muito menos comum, com sintomas como inchaço, prurido, erupção cutânea, formigamento ou queimação na boca e congestão nasal.

A melhor maneira de testar a sensibilidade ao glúten não celíaca (após a exclusão da possibilidade de doença celíaca) é remover todas as fontes de glúten de sua dieta durante várias semanas. Se os sintomas desaparecerem, reintroduzir o glúten para ver se eles se repetem. Outra opção é manter um diário alimentar por algumas semanas, anotando tudo o que você comer e beber e quaisquer sintomas que se seguem.

Em adição à inconveniência e despesa adicional, uma dieta isenta de glúten pode resultar numa baixa ingestão de fibra e determinados nutrientes essenciais. Se você pretende se alimentar sem glúten, é aconselhável consultar um nutricionista.

Artigo traduzido por Essential Nutrition
Autora:
JANE E. BRODY
Referências:
http://well.blogs.nytimes.com/2014/10/06/when-gluten-sensitivity-isnt-celiac-disease/?_php=true&_type=blogs&smid=nytcore-ipad-share&smprod=nytcore-ipad&_r=0

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